7 de Março, 2022

Women@Speed: liderança feminina a alta velocidade

Liderança, gestão e empreendedorismo são palavras normalmente associadas ao mundo empresarial mas que servem na perfeição para descrever as protagonistas desta história: uma mão-cheia de talento.

O género é apenas um pormenor quando o talento fala mais alto. Clara de Sousa, Vanda de Jesus, Marlene Vieira, Inês Ponte e Isabel Baptista confirmam que “mulher” e “líder” são palavras que podem – e devem – fazer parte da mesma frase. Quer saber porquê?

Vanda de Jesus

Diretora executiva Portugal Digital

IT

“A inclusão não começa na empregabilidade mas sim na educação”

Quem o diz é Vanda de Jesus, diretora executiva do Portugal Digital. A realidade confirma-o. Portugal está acima da média europeia, com 22% de mulheres empregadas no setor das TIC – dados de 2021 face a 19% (2020) na UE – de acordo com a Eurostat. No entanto, se analisarmos o número de mulheres a frequentar licenciaturas e mestrados nas áreas TIC, este número reduz-se para 15%.

Por outro lado, no universo das 54% das mulheres que se matricularam no Ensino Superior em 2020, apenas 12% enveredaram em engenharias tecnológicas: “Todas as estruturas que trabalham em torno do plano de ação para a transição digital têm a ambição e o objetivo claro de reverter a tendência de redução da participação das raparigas e mulheres nas TIC. E temos exemplos de iniciativas que se preocupam com uma participação significativa de raparigas e mulheres. Sabemos que esta inclusão não começa na empregabilidade, mas sim na educação, desde o contexto em casa seguindo todo o percurso de ensino.”

Vanda de Jesus sabe do que fala. Conhece bem o mercado das TI, tanto na perspetiva das missões de Estado como na perspetiva empresarial. Por isso, a missão que lidera no Portugal Digital permite juntar estes dois mundos que se complementam. O objetivo? A liderança no feminino contribui para a diversidade organizacional e no efeito positivo que pode trazer: “A minha maior crença do impacto da liderança feminina é o reconhecimento da importância da diversidade na cultura organizacional, seja ela de género, racial, étnica ou qualquer outra.

Segundo um relatório da McKinsey dedicado a compreender o impacto da diversidade nas organizações: as empresas que tinham nas suas equipas mais de 30% de mulheres executivas demonstram melhor performance. As empresas que se concentram mais na diversidade racial e étnica tiveram 36% mais hipótese de ter retornos financeiros acima da média do seu setor. Dados que comprovam o contributo evidente das mulheres no mercado de trabalho.

O Banco Mundial e a revista The Economist destacaram Portugal entre os 10 melhores países para as mulheres trabalharem. Sinais positivos e que, segundo Vanda de Jesus, devem ser assinalados: “Gosto de acreditar que posso contribuir para este desígnio e, apesar do caminho trabalhoso que acarreta, devemos orgulhar-nos de alguns passos largos que temos dado e que me fazem crer que estamos no caminho certo.”

Um objetivo pessoal que quer ver alargado: “Nunca senti na pele a desigualdade de género ao longo do meu percurso profissional. Ser mulher e mãe faz parte da minha identidade dentro e fora do trabalho. No entanto, sabemos que nem sempre é assim. Trabalhamos para garantir que não só existem mais mulheres nas suas organizações de forma igualitária, como também nos cargos que nos parecem mais difíceis de atingir.”

Isabel Baptista

Coordenadora do Departamento de Desenvolvimento e Inovação do Centro Nacional de Cibersegurança

IT

“O mundo da informática tem uma linguagem hermética, comum a homens e mulheres”

O mercado da tecnologia é um dos que mais cresce no Mundo. O facto de haver poucas mulheres presentes no setor fez com que várias empresas – entre as quais, a Microsoft – disponibilizassem vários cursos gratuitos de forma a conseguirem contrariar esta tendência.

Uma situação que não é exclusiva da Europa, como revela a OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico – num estudo que agrega 37 países da América do Norte e do Sul, da Europa e da Ásia-Pacífico. O relatório “Education at a Glance 2021” vai ao encontro deste cenário pouco igualitário. No que diz respeito à formação em Portugal, as mulheres representam apenas 17% dos novos estudantes de tecnologias de informação e comunicação – o valor médio apurado nos países da OCDE é de 20%.

Isabel Baptista integra o Centro Nacional de Cibersegurança desde 2014. É coordenadora do Departamento de Desenvolvimento e Inovação, onde tem a responsabilidade das áreas de formação, sensibilização e treino, cooperação nacional e internacional, inovação e desenvolvimento, comunicação e imagem.

Iniciou a sua carreira profissional enquanto consultora/ gestora de projetos em software de gestão mas tem vindo a especializar-se em segurança da informação e direito do ciberespaço.

Recorda-se que na faculdade eram apenas três raparigas no curso: “Em todo o meu percurso fui sempre uma entre poucas e nunca me causou qualquer tipo de constrangimento. Temos maior dificuldade enquanto esposas, mães e filhas, nesse caso, o desafio entre homens e mulheres é muito maior. Nós até temos alguma capacidade para o multitasking mas calma… não precisa de ser tanto.”

O empreendedorismo também aqui pode dar uma ajuda: “Ser uma mulher empreendedora é ser uma mulher proactiva na sua função. Nesse sentido, considero-me uma mulher empreendedora. Todos os dias me desafio a fazer diferente. Desafio-me a fazer algo novo, coisas que me façam estar com um sorriso nos lábios. Acho que só somos empreendedores se formos felizes a fazer aquilo que fazemos. É um pouco como cozinhar, só o conseguimos se fizermos muitas vezes.”

Para conseguir fazer-se ouvir num mundo onde a igualdade de género ainda não é uma realidade, o truque é simples: “Não dou mais importância aos homens para além daquela que eles têm, trato-os de igual para igual.”

Clara de Sousa

Jornalista SIC Notícias

Comunicação social

“Dar a oportunidade é fundamental. Depois, o mérito faz a diferença”

Clara de Sousa comanda o leme do Jornal da Noite da SIC e é um dos rostos mais consistentes do jornalismo em Portugal.

Comunicadora nata, nunca teve medo de mostrar quem é. Sempre com a mesma mestria, sempre com a mesma honestidade: “Nunca gostei muito de mandar mas sou líder de mim própria. A experiência é o nosso ativo mais importante porque já passámos por muito, já conseguimos resolver muitos problemas. É necessário tomar decisões, orientar, ajudar, sem dúvida. Mas a liderança típica de ser chefe de alguém, nunca tive vontade.”

Considera-se empreendedora no sentido em que opta por enveredar por caminhos que podem ser diferentes entre si, mas unem todas as paixões com que Clara distribui o seu tempo. Reparte-o entre o jornalismo, a cozinha e a bricolage: “Enquanto estamos vivos nunca chegamos ao fim da estrada. Gosto de fazer algo que falta ser feito. Se acrescentar à minha vida e conseguir acrescentar à vida dos outros, melhor. No que conseguirmos fazer de positivo com o outro, devemos fazer.”

Começou a trabalhar aos 19 anos e é com tranquilidade que assume um percurso profissional com mais de 35: “O sucesso é estar no ponto em que quero, as pessoas reconhecem-me o mérito e a competência, sinto-me tranquila. Quando é trabalhado, o sucesso dá muito trabalho. A sorte também. Tive sorte em todos os momentos da minha vida em que foi necessário dar um salto mas o meu trabalho é que me tornou visível. Aconteceu quando estava na rádio, na televisão foi igual.

Hoje, os tempos são outros. A pouco e pouco, as mulheres conseguem afirmar-se num caminho que nem sempre é fácil: “A pouco e pouco, vemos diferença em relação aos cargos de gestão, em cargos de liderança. Mas também tem de haver disponibilidade das empresas para isso. Daí a questão das cotas romper com este vício.

Sou a favor de uma igualdade de oportunidades: dar a oportunidade é fundamental. Depois, o mérito faz a diferença. Quando somos verdadeiros naquilo que fazemos somos mais felizes porque não perdemos tempo nem energia com esquemas e realidades alternativas”.

Marlene Vieira

Chefe de cozinha/ Proprietária

Restauração

“Fui educada a não desistir facilmente daquilo que quero”

Por falar de tachos, a chefe Marlene Vieira também tem uma palavra a dizer.
Várias, aliás. Ou não fosse a vida da chefe Marlene mais rica do que a mais bela iguaria do mundo.

Aos 13 anos começou a trabalhar numa cozinha e, desde aí, teve oportunidade de conhecer muitas outras que a enriqueceram e permitiram trilhar um caminho que, mais do que de indiscutível sucesso, é de foco e dedicação.

Hoje as mulheres estão mais preparadas para equilibrar a vida pessoal e profissional. Por isso, a liberdade e espontaneidade do homem no local de trabalho também recuaram. “As empresas vão ter de se habituar a essa nova realidade” até porque, segundo a chefe Marlene, ainda há um longo caminho a fazer: “Há o hábito de assumir que os homens são mais desprendidos da vida familiar. É algo que tem de ver com a educação, só que a ideia é não ter de ceder mas haver um equilíbrio.”

O mundo da cozinha não dá tréguas. Apesar de se dividir de forma igual entre homens e mulheres, o mesmo não se passa quando falamos de liderança: “Há muitas mulheres que estão nas cozinhas mas não lhes é atribuído o papel de chefia. Foram muitos anos a dizer que tomar conta de crianças e das famílias é responsabilidade das mulheres.”

É uma líder nata. Aliás, líder gestora, porque hoje em dia é necessário assumir o controlo total de um negócio que se quer lucrativo e inspirador: “Eu sou entidade patronal, faço a gestão do meu tempo. Mas eu sabia que era a forma de conciliar os meus mundos, tive de criar essa oportunidade para mim mesma.”

Tem o seu restaurante – o Zunzum Gastrobar, na Doca Jardim do Tabaco – e é cabeça de cartaz em vários eventos e concursos de televisão. Porém, aquilo que a faz feliz é mesmo arregaçar as mangas e comandar o barco: quando a pandemia não deu tréguas e obrigou a fechar praticamente todos os restaurantes, a chefe Marlene conseguiu dar resposta e, prontamente, adaptou a sua ementa para o serviço de take away.

Filha de uma galega de pulso firme, viu a mãe educar 10 filhos sozinha e reconhece que é essa força a leva a lutar por aquilo em que acredita: “Por muito medo do confronto que tivesse, não o mostrava. Na hora da verdade, fazia-me de mais forte do que aquilo que era. Mas foi a forma de conseguir impor-me e conseguir caminhar. A minha mãe ensinou-me a ser forte mesmo que tivesse inúmeros obstáculos pela frente. Tem muito que ver com educação. Fui educada a não desistir com facilidade daquilo que quero.”

É mesmo essa a regra que segue com a filha, de 6 anos: “Agora, enquanto mãe, tento passar a mesma mensagem à minha filha. Quando queremos muito atingir um determinado objetivo não podemos permitir que alguém nos arranque esse sonho. Desistimos se tivermos de desistir e não por quererem que o façamos. Não podemos permitir que haja alguém que nos desvie-nos do caminho.”

Inês Ponte

Navegadora

Desporto

“Para obter resultados tem de haver cumplicidade, confiança e sintonia na equipa”

Se há mulher que, definitivamente, nunca quis desviar-se do caminho é Inês Ponte. É conhecida e reconhecida por ter sido a primeira mulher a ganhar um título de campeã nacional de ralis, em 2016, mas a verdade é que é muito mais do que isso.

A história de Inês cedo se cruzou com as quatro rodas. Com apenas 10 anos, o pai ofereceu-lhe o primeiro kartcross mas foi quando se sentou, pela primeira vez, enquanto navegadora que percebeu que o seu futuro passava por ali.

Entrou no mundo dos ralis muito nova e, nesse momento, ninguém lhe dava grande valor ou pensava que pudesse chegar longe: “A certa altura, comecei a olhar para isto como uma profissão, mas nunca quis provar nada a ninguém para além de mim própria. Tracei o meu primeiro objetivo de ser campeã nacional e não descansei até conseguir.”

O facto de ser muito nova e mulher fez com que não conseguisse passar despercebida mas acredita que foram “os resultados e o profissionalismo” que a distinguiram e lhe deram a oportunidade de ingressar na equipa da Citroën Vodafone Team: “O meu piloto – José Pedro Fontes – teve coragem de levar uma mulher ao seu lado. Diz que prefere andar com uma mulher como navegadora porque, para além da calma que lhe transmite, acredita que as mulheres têm maior capacidade de organização. Tem de haver cumplicidade, confiança e sintonia. Se assim não for, não conseguimos obter os resultados pretendidos e facilmente as coisas descambam.”

A maternidade sempre fez parte dos seus sonhos, ainda antes dos ralis e do curso de fisioterapeuta mas nunca a fez desistir: “Houve alturas em que pensei que a maternidade me fizesse não regressar e ouvi-o várias vezes, como se o facto de ser mãe e mulher devesse sobrepor-se à minha profissão. Quando tive o acidente, também me disseram várias vezes para não voltar, como se fosse normal que depois de terem sofrido um acidente, as pessoas não pudessem regressar ao normal.”

Ainda que tenham sido muitas as vozes que se fizeram ouvir, o resultado surpreendeu tudo e todos: “Sempre voltei ainda com mais força e ânimo e convicta daquilo em que acredito: isto não é um hobby, é a minha profissão.”

Sabe que o mais importante é ter persistência, confiança e humildade: “São tantas as portas que se fecham que é fácil desistir, tudo nos leva a isso.”

Mais do que todas as taças conquistadas, poder fazer profissionalmente aquilo que ama e poder partilhá-lo com a família é a sua vitória mais saborosa.

A mensagem da Organização das Nações Unidas – ONU – para celebrar o Dia Internacional da Mulher não deixa margem para dúvidas: “Igualdade de género entre homens e mulheres hoje para um amanhã mais sustentável.”

Vários universos, uma certeza: vencer num mundo que ainda permite que o preconceito abafe o mérito. A diversidade contribui para a sua sustentabilidade e está ao alcance de todos. Estas cinco mulheres são prova disso mesmo.

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