Embora as exigências do ambiente exijam que as empresas se tornem mais humanizadas e se adaptem às novas tendências, a adoção de políticas de sustentabilidade continua a ser um dos grandes desafios no mundo do trabalho, dos negócios e da digitalização.
A este desafio há que acrescentar outro já bem conhecido, e que dá pelo noome de transformação digital. E embora possam parecer dois assuntos diferentes, estão intimamente relacionados.
O jornalista Pavel Ramírez é uma das top voices da sustentabilidade em Espanha, uma iniciativa promovida pelo Linkedin. Explica que, embora a sustentabilidade esteja a ser adotada de forma a gerar uma boa imagem e reputação, as empresas devem compreender que a sustentabilidade é mais sobre os valores da empresa que são transmitidos através das suas ações.
“Ao comprometerem-se com a sustentabilidade, as empresas devem ter em mente que isto não é um investimento em algo que não faz sentido ou que signifique uma perda. Trata-se de um compromisso com uma política que irá preservar o sistema de consumo que o sustenta enquanto empresa, tornando-o rentável”
As empresas podem começar por adotar políticas de sustentabilidade relacionadas com o seu campo de ação e expandir gradualmente as suas ações. Uma vez que a ideia de sustentabilidade é transversal aos setores, as empresas devem visar uma política de sustentabilidade empresarial transversal.
O que significa uma política transversal de sustentabilidade empresarial? De acordo com o Pacto Global que promove os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela ONU, as empresas devem alinhar as suas estratégias e operações com princípios universais sobre direitos humanos, normas laborais, ambiente e anti-corrupção.
Neste sentido, a transformação do negócio digital tem um impacto em todos estes aspetos. Através da digitalização das empresas, o compromisso com a sustentabilidade pode ser estrategicamente abordado.
“A digitalização é atualmente um pilar da sustentabilidade que tem, sem dúvida, um grande impacto num contexto de crise e desigualdade energética internacional”
Pavel Ramírez – Top voices da sustentabilidade Linkedin
Digitalização e sustentabilidade: principais impactos
A adoção de ferramentas de gestão empresarial para a transformação digital pode não cobrir todos os aspetos que uma política de sustentabilidade abrangente exige. No entanto, são um canal chave que facilita ações sustentáveis viáveis.
No contexto atual, a digitalização pode ajudar a quebrar as barreiras que impedem as empresas de adotar medidas sustentáveis: “Um estudo recente de Oxford revela que os principais desafios à adoção da sustentabilidade são: falta de comunicação e empenho da administração, falta de conhecimento na análise de dados, tecnologias de silos que não partilham informação entre departamentos, e falta de colaboração.”
Neste cenário, a utilização de um ERP, por exemplo, iria abranger a informação dos departamentos de uma empresa e fornecer dados integrados que facilitem a análise da informação e a tomada de decisões por parte da direção.
Outro aspeto da sustentabilidade das empresas relacionado com a digitalização é a poupança de energia e a promoção do teletrabalho, que ajuda a reduzir os custos de gás e eletricidade.
Segundo dados do INE, mais de um milhão de portugueses – 20,6% da população empregada – trabalhou em casa durante o segundo trimestre de 2022. Entre os que estiveram em teletrabalho entre abril e junho, a maioria – 30% – fê-lo a 100%.
“As empresas estão a trabalhar na poupança de energia nos escritórios, o que está a ter um impacto ambiental, pelo que há necessidade de desenvolver uma legislação sobre trabalho remoto que garante a sua aplicação e permita aos colaboradores usufruir dos mesmos benefícios onde quer que se encontrem.”
A tecnologia certa pode ser aliada da sustentabilidade da empresa. Outro exemplo é o caso do comércio eletrónico ou e-commerce. Relativamente a este canal, o especialista salienta que promove e reforça a economia local, uma parte importante da sustentabilidade.
“Ao promover o consumo de produtos locais, estão envolvidos uma série de processos que geram emprego e oportunidades comerciais até ao momento em que o produto chegue ao consumidor. Este ecossistema empresarial reforça uma visão sustentável, pelo que as empresas que apostam no comércio eletrónico estão um passo à frente.”
Uma aposta com grandes ventagens competitivas
Cada medida sustentável tem um impacto direto no desempenho da empresa e traduz-se numa vantagem competitiva: rentabilidade, poupança de energia, promoção de novos modelos de trabalho, facilidade na decisão, aumento da produtividade e eficiência, por exemplo, constituem vantagens competitivas, seja a curto, médio ou longo prazo.
Para além de todas as vantagens mencionadas, Pavel Ramírez destaca ainda o facto de uma empresa sustentável ser, provavelmente, uma empresa inovadora, através de um compromisso de proteção do ecossistema que, em última análise, mantém as empresas vivas:
“Ter e proteger um ecossistema do qual a sua empresa depende é simplesmente vital. Cada ação de uma empresa que saiba refletir os seus valores, irá melhorar a atração e retenção de talentos.”